Por Carolina Maria Ruy
O racismo, a herança macabra da escravidão africana, o abismo social, a violência policial são temas que se tocam e se confundem.
Isso fica claro na música Haiti. Emblemática, complexa, simbólica, muito estudada por sua gramática, por seu ritmo, por sua poesia e por seu conteúdo político, a música é, antes de tudo, uma denúncia da miséria, em seus múltiplos sentidos, fincada na hipocrisia de um mundo assimétrico.
O Haiti é uma ideia. Ela dispensa discursos longos e rebuscados. Frases encaixadas neste rap ousado falam dos pretos que apanham da polícia no mesmo lugar onde os escravos eram castigados, de políticas que se desdobram privação do ensino básico, da incoerência entre defender a pena de morte e condenar o aborto, da aceitação passiva da morte violenta de 111 presos indefesos.
Assim, a ideia do Haiti, país mais pobre das Américas, é evocada onde todo tipo de violência contra pretos e pobres é naturalizada. Ela se expressa onde persiste a herança macabra da escravidão africana, o abismo social, a violência policial.
Fonte: Centro de Memória Sindical