Porteiro de terceirizada escreve carta ao Sindifícios - Sindifícios

No início do ano, o presidente do Sindifícios, Paulo Ferrari, recebeu um envelope com uma séria denúncia feita por um porteiro, funcionário de uma empresa que terceiriza a mão de obra em condomínios, relatando a forma como ele atua e a vida que leva profissionalmente.

Ao todo, são 114 páginas escritas à mão por uma pessoa que pede para não ser identificada. João, como vamos tratá-lo, está na mesma empresa há quase três anos e diz que nela entrou por estar desesperado procurando emprego e tem medo de voltar à mesma situação.

Em busca de emprego
João revela que o início foi surpreendentemente fácil; ao ler uma placa na rua solicitando “Porteiros mesmo que sem experiência/ Início imediato”, resolveu conhecer do que se tratava. Sem preparo, cursos ou experiência, recebeu roupas de uniforme, rádio, códigos e, no dia seguinte, começou a trabalhar num condomínio com 340 apartamentos.

O trabalhador se cala para ter emprego
Contratado para trabalhar em escala 4×2, descobriu no primeiro dia que seria 5×1, sem contar a carga horária diária superior a determinada pela Convenção Coletiva da Categoria. Na prática, ele afirma que para fugir do desemprego o trabalhador aceita calado imposições ilegais; assim, garante um salário baixo, mesmo trabalhando muito, com dificuldades para receber horas extras e feriados. E não adianta pedir ajuda ao sindicato das terceirizadas: “Este pouco se importa com essa situação”, afirma João e completa: “Com o tempo descobri que nenhuma terceirizada manda o funcionário embora; elas querem que o insatisfeito peça demissão para fazer um acordo que, na prática, consiste em o funcionário arcar com as despesas rescisórias para sair”.

O contato com o morador
No texto, João narra a dificuldade de se relacionar com os moradores, pois o síndico proíbe o contato para não ter vínculos com os funcionários. Também revela que, da portaria, pôde ouvir o síndico negociando com a empresa contratada os benefícios pessoais que recebera pelo contrato.

Segurança
A segurança no condomínio terceirizado é precária, pois muitos locais sustentam só a aparência. Monitores e câmeras de monitoramento desligados ou com imagens ruins, cercas elétricas desligadas, moradores que não cumprem com as normas em especial no acesso a garagem, enfim, a vulnerabilidade do condomínio expõe a vida de todos os moradores e o pior: funcionários terceirizados sem treinamento algum.