Criança trabalhando. Criança sem escola. Criança sem lazer. Criança sem família. Criança sem saúde. Nós sabemos o que acontecerá no futuro! A manchete de jornal não o chamará de criança, mas de menor!
Menino da Porteira
(Teddy Vieira e Luizinho/1955)
Toda vez que eu viajava
Pela estrada de ouro fino
De longe eu avistava
A figura de um menino
Que corria abri a porteira
Depoi vinha me pedindo
Toque o berrante seu moço
Que é pra mim ficá ouvindo
Quando a boiada passava
Que a porteira ia fechando
Eu jogava uma moeda,
Ele saia pulando;
Obrigado, boiadeiro
Que Deus vai lhe acompanhando
Pra aquele sertão afora
Meu berrante ia tocando
No caminho desta vida
Muito espinho encontrei
Mais nenhum calou mais fundo
Do que isso que eu passai:
Na minha viage de volta
Quarqué coisa eu cismei,
Vendo a porteira fechada
E o menino não avistei
Apiei do meu cavalo
Num ranchinho beira chão,
Vi uma muié chorando
Quis sabê qual a razão:
Boiadeiro veio tarde,
Veja a cruz no estradão,
Quem matou o meu filinho
Foi um boi sem coração
Lá pra banda de ouro fino
Levando o gado servage,
Quando eu passo na porteira
Até vejo sua image
O seu rangido tão triste
Mai parece uma mensage
Daquele rosto trigueiro
Desejando me boa viage
A cruzinha do estradão
Do pensamento não sai
Eu já fiz um juramento
Que eu não esqueço jamais
Nem que o meu gado estore
Que eu preciso ir atrás
Nesse pedaço de chão
Berrante eu não toco mais.
Fonte: https://memoriasindical.com.br/